Quando o Sol nasceu, a Lua, ainda em Leão, carregava a sorte do dia: Regulus, a estrela que destina o coroamento. A sorte é de quem sabe que o é teu tá guardado. Dessa forma a Lua finaliza a sua triunfante participação no tapete de celebridades do Rei Leão. Se recolhe ao discretíssimo signo da Virgem. O apagar dos holofotes, a extravagância da lugar ao singelo, ao detalhe, ao microscópico, minimalista. Triplicidade da terra. Domicílio e exaltação de Mercúrio. O pé no chão e a cabeça nas alturas, nas laterais, na profundidade e em qualquer outra dimensão que pode ser imaginada e, de preferência, decodificada pela mente humana. Discreta e ágil, ela faz tudo, como sempre, dialoga com Mercúrio em Câncer por mútua disposição e sextil, faz uma quadratura com o Sol em Gêmeos marcando a sua segunda fase crescente, colérica, seca, determinada e objetiva e, ao fim do expediente, ainda encontra tempo para encarar de frente Marte em Peixes como Babu encarava Daniel: “não entendo como a pessoa quer salvar a Amazônia e não lava uma louça”. Virgo nunca entenderá. Você pensa demais. É por isso que não age. Eu sempre imagino os signos mutáveis, Virgem, Gêmeos, Peixes e Sagitário se fazendo mutuamente essa acusação. Os dois de Júpiter têm regras demais. Os dois de Mercúrio ensaiam demais. Uns acreditam demais, outros de menos. Uns erram demais e outros de menos, ou pelo menos assim eles acreditam. Entre os três planetas em diferentes signos mutáveis que estrelam a cena celeste do dia, há em comum a única certeza da impermanência. Não sei. Escutei essa palavra no podcast de budistas que eu gosto. Tudo passa tudo sempre passará. Será? Vi a reprise do Lulu Santos na Tata Werneck. A vida vem em ondas como o mar. Bonita essa música, né. Até parece a conversa da Lua com Mercúrio e de Mercúrio com a Lua no dia de hoje. Jeito delicado que essa Lua tem de chegar em Virgo para, entre outras infinitas atividades do dia, receber o Barão da Ralé na Manguetown. Recém chegado no Caranguejo, um campo fértil para proliferação de ideias, Mercúrio oferece muito material para a Lua classificar, etiquetar e arquivar. Ela que organize. Marte que lute. A gente que dê ou peça a conta.