Eu amo quando a enxurrada do Caranguejo surge para lavar a alma.

Eu amo quando a enxurrada do Caranguejo surge para lavar a alma. Pelo terceiro dia consecutivo, no entanto, a umidade é palpável, as paredes se estufam e o mofo toma conta das roupas.

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Judia de mim, judia

Se eu não sou merecedor desse amor

Se eu choro

Será que você não notou

É a você que eu adoro

Carrego esse meu sentimento

Sem ressentimento

É, a cana quando é boa

Se conhece pelo nó

Assovio entre os dentes

Um cantiga dolente

Entre cacos e cavacos

Sobrei eu, duro nos cascos

Bem curtido pelo cheiro dos sovacos

Judia de mim

E quem dança qualquer dança

Na bonança não sabe o que é

Desconhece a esperança

No falso amor leva, fé

Quem de paz se alimenta

Se contenta com migalhas

Não se aflige

E corrige

As próprias falhas

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Zeca Pagodinho.